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Miragens

Primeiro passeio da série “fevereiro em SP sem dinheiro”: Miragens, no Instituto Tomie Ohtake. Fui de desavisada, passear no Tomie porque uma amiga trabalha lá e é muito perto de onde estou hospedada. Valeu bem mais que o abraço na amiga e nem a chuva na saída me desanimou.

É uma compilação de trabalhos de artistas, de várias partes do mundo, onde a temática islâmica é abordada de alguma forma. A exposição é parte de uma outra mostra paralela no CCBB SP: Islã – Arte e Civilização, que, segundo soube, não coube inteira lá.

A data para minha visita à expo não poderia ter sido mais adequada, embora nada intencional: o dia da renúncia de Mubarak. As obras são recheadas de críticas, algumas muito bem humoradas, mas também tentam desconstruir ideias pré-concebidas que os ocidentais tendem a ter do islã.

Adoro essa aqui de Laila Shawa:

Terrorista-Fashionista, ham, ham?

Toda edição da São Paulo Fashion Week acontece a mesma coisa. Reinaldo Lourenço desfila sua coleção cedo, por volta de 11h, no segundo ou terceiro dia de desfiles, no salão cedido pela FAAP, longe da Bienal. É um pra lá e pra cá de jornalistas, fotógrafos e curiosos de resultado previsível: todos saem maravilhados com o trabalho do estilista. Toda edição da SPFW eu fico me perguntando se as pessoas viram a mesma coleção que eu.

Não é que o trabalho de Reinaldo seja ruim, muito pelo contrário, poucas pessoas na moda têm semelhante capricho e precisão nas suas criações. Mas eu, enquanto amante da novidade, mesmo que seja baseada num modelo já existente (como fazem Reinaldo Fraga e Alexandre Herchcovitch, por exemplo), sempre fico sem entender o que de tão genial o povo percebe no trabalho de Lourenço. O que eu percebo é que entre uma cartela de pretos, brancos e vermelhos, em modelagem quadradona, sempre aparece um bordado, uma aplicação ou um tecido de textura diferenciada, bonito, de bom gosto, mas totalmente previsível.

Daí vem jornalista encontrar um sem fim de referências ali, dizendo que sentiu um “perfume” (por favor, parem de usar essa palavra nesse contexto!) de Helmut Lang, Celine, Balenciaga… Ou falam do tempo que levou para finalizar os tais bordados. Como se fazer uma coleção que remete a uma grife estrangeira ou ter peças que levaram uma semana para serem confeccionadas fosse premissa de genialidade na criação em moda.

É uma roupa pra ser vista de perto, sem dúvida, como mostram os tão comentados bordados e o trabalho em couro:

Mas o que eu vejo é mais do mesmo, bem feito, mas sem surpresas.

Bem linda a coleção da Animale, hein? Sempre gosto dos tricôs da marca e no visual proposto pro inverno 2011 não foi diferente.

E que bem incríveis esses sapatos do Tufi Duek! Embora eu tenha um problema pessoal com sandálias, aprovei:

Cobertura completa no FFW: Animale Inverno 2011 e Tufi Duek Inverno 2011

Já falei mal da Miuccia Prada aqui no blog algumas vezes e ao que parece ela não cansa de dar motivos para novos posts desgostosos envolvendo seu nome. A última foi dizer que a Prada jamais faria coleções para o segmento fast fashion como H&M e Topshop. Essa onda de desenvolver roupas mais acessíveis, de olho numa consumidora menos elitista, com menos grana, mas que muitas vezes compra em maior quantidade. Tendência que muita marca abraçou aqui e lá fora, vide Lanvin, Stella McCartney, Osklen e Alexandre Herchcovtich.

De acordo com Miuccia, a Prada não aposta nessa tendência porque não quer decair o padrão de qualidade de suas criações. Na verdade a expressão usada foi “bad copies”. Aí eu me questiono sobre o potencial criativo de uma estilista que afirma com todas as letras que só sabe desenhar roupa cara. Tudo bem que a marca é dela e ela faz roupa pra quem bem entender, mas cadê o espaço para a inovação da qual ela fala na mesma entrevista?

It’s clear that Chanel is known for the little jacket, and Vuitton for the LV, and us? Nobody really knows what we are, which is fortunate. Because I try to resist making a banal product

Ah, lembrei, inovação no mundo da Prada é colocar uma adolescente de 15 anos na campanha da Miu Miu e dizer que ela representa o espírito da marca “on the cusp of womanhood”: Fiften year old Lindsey Wixson’s Miu Miu Ads Debut

Genial que em pleno 2011 tem marca que faz questão de manter a moda num patamar arrogante e elitista pra vender roupa. Me desculpem os fãs do trabalho de Miuccia, mas só o diabo pra gostar da Prada mesmo!

Black Swan

O filme nem estreiou ainda no Brasil mas não aguentei esperar pra ver no cinema e baixei pra ver em casa no monitor de 17′ mesmo. Talvez dia 04 de fevereiro eu vá ao cinema para novamente ver Natalie Portman se equilibrar com a sapatilha de ponta, porque Cisne Negro merece ser assistido na telona.

Se você leu alguma coisa sobre o filme já deve saber da famosa cena entre Natalie e Mila Kunis (é, a Jackie de That 70’s Show). Tenho certeza que teve muita gente indo ao cinema só por esses míseros dois minutos da trama, pois segundo a própria Portman:

“Everyone was so worried about who was going to want to see this movie. I remember them being like, ‘How do you get guys to a ballet movie? How do you get girls to a thriller? The answer is a lesbian scene. Everyone wants to see that.”

Uma lástima reduzir a própria interpretação a um truque comercial tão bobo! Mas polêmicas a parte, eu não esperava nada diferente de Natalie além de ser bonita e atuar bem. Suponho que a cláusula “bom senso” e engajamento no movimento queer não conste no contrato de nenhum filme, aliás, é bem possível que em alguns casos sugira exatamente o contrário…

E se o assunto é boa atuação não se pode falar outra coisa que não seja o quanto ela mereceu o Globo de Ouro e merece sim concorrer (e quem sabe levar) o Oscar de melhor atriz. Apesar da curta participação adorei as aparições de Winona Ryder como bailarina veterana perturbada e Mila Kunis também agrada enquanto rival, representante do lado negro. Inclusive o site da Vogue UK publicou uma entrevista onde ela fala sobre o lado obscuro do balé: Black Swan

Passagens curtas, mas muito simbólicas do filme deixam isso muito claro, não só pela confusão mental da personagem principal, mas também nas pequenas menções aos transtornos alimentares (tão frequentes nesse meio e tão pouco abordados) e a busca incansável pela perfeição. Interessante é o que diz Thomas, vivido por Vicent Cassel, instrutor da escola de balé: “perfection is more than just getting every movement right; you have to let go“.

Outro tópico importante é como o diretor, Darren Aranofsky lida com a questão da infantilidade desse universo. Desde a relação de Nina com a mãe, passando pela decoração do apartamento, do quarto especialmente, até as atitudes das personagens como um todo, demonstram que o universo da bailarina é baseado numa conexão com a infância. Em parte por seus corpos que precisam demonstrar a leveza do corpo de uma criança, em parte porque crescer representaria o fim de uma carreira que é muito curta. E ao mesmo tempo é exigido da bailarina que seus movimentos sejam sedutores, que o corpo de menina dance como uma mulher. É bem semelhante ao que acontece na moda com as modelos.

O próprio figurino de Black Swan é a prova da presença do balé na moda e a moda no balé. As roupas são criação da Rodarte, embora nos créditos apareça apenas o nome de Amy Scott, como comenta a Vogue: Creditworth.

Nenhuma surpresa, portanto, que tutus, sapatilhas e rendas estejam se apresentando como tendência ultimamente. A Vogue Russa escolheu o assunto como tema de um editorial de moda, fotografado por Jason Schmidt, que encontrei no blog da Lidy Araújo: Bailarina

Vamos esperar pra ver o que vem por aí na São Paulo Fashion Week, que começa amanhã, mas também aposto no romantismo do balé como tendencinha forte pra o próximo inverno.